

Após a renúncia de Bento XVI e a expectativa da eleição do novo Papa, o que se leu e ouviu mostram muito bem que cada um tem suas idéias, seu modo de ver, sentir, expressar-se avaliar e maldizer. Houve insinuações dos mais variados naipes, julgamentos precipitados, invencionices, distorções, demonstrações de intolerância, pressa em emitir juízos condenatórios, generalizações. Quanta bobagem, escrita e falada! Maledicências sem fim, como se a Igreja Instituição fosse culpada de todos os erros de cada um de seus membros. O que o Ano da Fé tem a dizer aos cristãos?
O Ano da Fé foi instituído por Bento XVI em 11 de outubro de 2012. Quis o Papa convidar cada seguidor de Cristo a uma reflexão pessoal sobre o conhecimento da fé que move sua vida. Pensar sobre ou a partir dos conceitos da fé que cultiva e as convicções que nutre. Entender a relação entre razão é fé. Familiarizar-se com a Proposta. Perceber que o que se diz crer não pode contradizer o fazer. Ficar atento, pois, o entendimento alcançado não se esgota na compreensão que a razão obteve. Deus ainda é maior. Ao mesmo tempo, a fé não se restringe a emoções e sentimentos. Orienta-se pela Verdade vivida e pregada pelo Mestre.
Os abusos e desvios de conduta de tantos cristãos não são falhas dos ensinamentos de Cristo ou da Igreja. Expressam a dificuldade humana de entender a Proposta que Ele fez e de pô-la em prática. Há aqueles que a entendem em favor de sua compreensão, interesses e desejos. O Ano da fé é, pois, um convite a reexaminar o entendimento da fé. Perguntar-se: “Como está minha fé? Busco torná-la esclarecida? Sou capaz de justificá-la frente às contestações, insinuações, cobranças?” Se há escândalos, – sempre existiram – não são da Igreja. Todas as instituições tem que lidar com desvios de conduta.
O que é a Igreja? Certamente, não só a Instituição, mas cada cristão que aceitou orientar o seu viver e fazer pelos critérios da Proposta de Cristo. Assim, o entendiam os primeiros cristãos que deram o ponto de partida dessa grande caminhada. Entre altos e baixos os seguidores continuam a tentar entender e conformar seu viver aos critérios de sua Proposta. Por isso a Igreja continua em pé. Há desvios? Sim. Ele não disse que não existiriam. Quando Ele veio, veio para o homem, tal qual é conhecido. Não veio propor um Caminho para anjos. Falou para seres humanos. Esses que todos conhecem. É para esses que Ele diz: “A medida com que medirdes, será usada para medir-vos” (Mc 4,24). Se cair, levante! Comece todos os dias novamente. Até aprender. Há muita dificuldade de ouvir? Dificuldade de entender? Sim! Mas, o Ano da Fé vem para dizer: Toca em frente. Levante. É um treino de todos os dias. O fato de alguns companheiros caírem, não diminui, nem desmerece a grandeza da Proposta.
A fé ainda tem espaço num mundo secularizado? Por que alimentar a fé sobrenatural? A ciência e as novas tecnologias contradizem a fé? Num mundo gerido por ideologias, políticas tortuosas, contestação de princípios e valores religiosos, difusão de idéias atéias, promoção de comportamentos lesivos e atentatórios à dignidade da pessoa humana, ainda há lugar para a fé? As guerras, fome, miséria, injusta distribuição dos bens, discriminação, lutas pelo poder a fé ainda tem lugar? Para que serve a fé sobrenatural? A bem da verdade, os indivíduos fazem atos de fé natural e implícitos todos os dias: Creem, sem qualquer questionamento, que o pão que a padaria fornece é confiável, foi elaborado de acordo com princípios éticos e de higiene; que o ônibus ou carro que conduz ao trabalho, escola ou passeio vai cumprir sua finalidade sem atropelos; que a escola, comerciante, polícia, funcionário público, empregado, patrão cumprem com respeito e exatidão os ditames previstos em suas tarefas e profissões. Não é possível estar onipresente para controlar a vida e as atividades que de algum modo afetam a vida de todos. Confia-se. Dá-se crédito, sem pestanejar. Da mesma forma, o crente confia na Palavra de Deus. Porque Ele é fiel.
Antônio Frederico Zancanaro
Autor de “A corrupção político-administrativa no Brasil”