

Sem poder imediato de intervenção, a sociedade tem sofrido duros golpes por conta de desvios de conduta de políticos corruptos. Muitos deles, eleitos, fazem da atividade política partidária um meio para auferir benefícios indevidos, enquanto distribuem migalhas para aqueles aos quais deveriam servir. Esse modo de agir criou em grande número de cidadãos uma tendência de considerar a política como uma atividade suja, má em si mesma. Por isso, é descartada de suas preocupações cotidianas.
Há que se considerar, porém, que quando exercida dentro das regras do respeito à dignidade das pessoas e do serviço e promoção do bem comum, a atividade política é boa e necessária. Os seres humanos não foram criados para viverem sós. Foram feitos, simultaneamente, indivíduo e ser social. A cultura hebraico-cristã foi criadora dos conceitos básicos, que nenhuma ideologia conseguiu alterar. Apresenta o homem como um ser individuado e social simultaneamente.
Portanto, político por natureza. Desde Aristóteles, aos Pensadores da Modernidade, todos reconhecem a necessidade da política como a arte e ação de gerar condições civilizadas de boa convivência entre os seres humanos. Isto ocorre porque, quando dois indivíduos se encontram, podem surgir divergências, controvérsias, disputas nada fraternas. A experiência cotidiana da convivência em sociedade mostra isso. A experiência cotidiana do convívio doméstico não é diferente. Em ambas, a negociação torna-se indispensável. A vida social e a familiar movem-se por escolhas. Cada um age movido por boas ou más escolhas políticas. No convívio social e no recinto do lar se aprende e se exercita a boa e a má política. Ali se treina a arte da negociação, que é um imperativo da boa política. Há sempre interesses em jogo. Gostos pessoais. Entendimentos diferentes. Precisa-se negociar. Ceder. Harmonizar. Dar tempo ao tempo. Nem tudo corre segundo as preferências e interpretações pessoais. O pressuposto essencial é sempre o bem comum. Promover o bem comum é tarefa de todos, mas intransferível, nos agentes públicos.
O Ano da Fé pode contribuir para a reflexão a partir dos princípios e valores que regem a vida em sociedade. É doloroso reconhecer o mau uso da função pública por representantes eleitos, sobretudo, quando são cristãos. Quem foi eleito recebeu a incumbência de promover o bem. Recebeu uma tarefa, um mandato, não uma carta em branco. Mas, é profundamente constrangedor ver agentes públicos cristãos envolvidos em falcatruas, mancomunados com o crime, desviando recursos destinados a projetos para o bem da coletividade. No tempo de Cristo não foi diferente. Ele enfrentou os desvios de conduta. Os donos do poder da sua época não conseguiram perceber o valor essencial de sua Proposta. O processo sumário que o levou à condenação e à morte foi o resultado da manipulação política, desvio de conduta e omissão de dirigentes políticos. Nos dias de hoje não é diferente. Ele deixou claro qual deve ser o modo de proceder do dirigente cristão. A política pode se transformar no jeito correto de viver o compromisso cristão a serviço dos outros. Da política depende a vida dos cidadãos. Por isso, o político cristão consciente, guiado pelos princípios e valores da fé cristã considera e exerce seu cargo como um serviço que promove o bem dos indivíduos e o bem de todos. Por esse caminho, torna-se porta-voz da coletividade, podendo contribuir para a construção de estruturas sociais justas e equilibradas para o benefício comum. Agir assim é promover a ação política segundo critérios cristãos.
Das ações políticas nascem a libertação ou escravidão. Depende dos princípios e valores que as embasam. Justiça e paz são o resultado de boas políticas. Não interessar-se pela política pode contribuir para a não realização do bem que a sociedade aspira. Da política depende a educação, o transporte, a segurança, o pão, a saúde, a liberdade de expressão, o alimento de cada o dia, as decisões que envolvem o dia-a-dia de cada um. Da omissão nasce a ignorância, a manipulação, o menor abandonado, os pequenos e grandes corruptos, a exploração dos mais fracos. O Ano da Fé ajuda o cristão a pensar nisso.
Antônio Frederico Zancanaro
Autor de: A Corrupção Político-Administrativa no Brasil