

Anunciado no último dia 13 de março como o novo chefe da Igreja Católica, o argentino Jorge Mario Bergoglio, 76 anos, já pode ser chamado de Papa dos Pobres. Ele escolheu o nome de Francisco para o seu pontificado, em homenagem a São Francisco de Assis (1181-1224), o santo que foi canonizado por sua dedicação aos mais humildes, e marcou sua trajetória religiosa por seu trabalho em comunidades carentes de Buenos Aires e arredores.
“Francisco é o homem da paz. E assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e preserva a criação; neste tempo, também a nossa relação com a criação não é muito boa, pois não? [Francisco] é o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre… Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres!”, afirmou Papa Francisco no primeiro encontro aberto com jornalistas que cobriram sua eleição no Conclave como sucessor de Bento XVI.
A homenagem de Bergoglio, o primeiro pontífice jesuíta e latino-americano da história, é carregada de simbolismos. “O nome escolhido pelo Papa escancara aos olhos do mundo um broto de esperança, ante a desafiadora tarefa que a Igreja tem de anunciar profeticamente e testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo, no enfrentamento de graves e exigentes questões que configuram a realidade contemporânea”, afirma dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte, em artigo publicado no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Para dom Walmor, a simplicidade evangélica do novo papa, sua sólida preparação intelectual jesuítica e admirável experiência pastoral o credenciam a conduzir a Igreja em direção à recuperação de suas próprias feridas.
O professor do departamento de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-MG), historiador Rodrigo Coppe Caldeira, diz que a eleição de Papa Francisco, surpreendente aos olhos do mundo, é um claro sinal de que a Igreja Católica se atenta para esses desafios a que se refere a CNBB. “O olhar se volta para o hemisfério sul do planeta, onde se encontra a maioria dos católicos e aqueles mais necessitados materialmente”, observa o estudioso em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo.
Caldeira descreve Papa Francisco como um sujeito de personalidade simples e discreta, contumaz defensor da caridade e da ajuda aos pobres e ciente de que a atividade da Igreja é a missão. O historiador lembra que em um de seus discursos antes da eleição como papa, Francisco disse que se deve evitar a doença espiritual de uma igreja autorreferencial e que “se a igreja permanece fechada em si mesma, autorreferenciada, envelhece.” Sinal, atenta Rodrigo Caldeira, de que o papa está disposto à escuta, “necessidade premente da igreja universal.”
Eurocentrismo
A eleição de um papa jesuíta, devotado aos pobres e, ainda por cima, latino-americano, é vista como um divisor de águas na configuração geopolítica do catolicismo pelo colunista do jornal espanhol El País, Francisco Basterra. Para ele, a primeira aparição de Jorge Bergoglio como papa, na sacada principal da Basílica de São Pedro, com uma cruz de metal no peito e gestos prosaicos, aguçava o princípio do fim de uma Igreja Católica envelhecida e eurocêntrica.
“Em apenas alguns minutos ficou claro que se aguçava o princípio do fim da Igreja Católica envelhecida e ancorada na Itália, eurocêntrica, e que ela se abria aos outros, os que até agora ficavam com pouco na distribuição mundial, os mais feridos pela desigualdade”, afirma. O jornalista espanhol diz que agora o papa não é apenas o bispo de Roma. “Na ótica da política internacional esse é o maior significado da eleição do cardeal Bergoglio, jesuíta, como o novo Papa Francisco.”
A mudança de rota da Igreja, pelo menos geograficamente falando, também é apontada pela CNBB como um marco importante na ascensão de um papa latino-americano. “A escolha de um latino-americano vem mostrar que a igreja se abre, está voltada para toda a igreja. Não é mais uma igreja só voltada para a Europa”, analisa o secretário-geral da CNBB, Leonardo Steiner. Francisco é o primeiro papa não-europeu desde Gregório 3º (731-741), que nasceu na atual Síria.
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