

Os protestos populares do mês de junho são reflexo do esgotamento da paciência, uma virtude cristã muito recomendada. Representam a gota d´agua que faltava para o copo transbordar. Graças à imprensa livre, a troca intensa de informações, idéias e sentimentos foi possível a explosão de manifestações que sintetizam a insatisfação de grande parte da sociedade, contra a falta de seriedade, corrupção e desmandos daqueles que receberam a incumbência de reger a construção do bem comum.
A sociedade sinalizou com um basta à grande maioria dos políticos que, após a eleição, se portam como se a vitória fosse puro mérito seu e “se lixam” para aqueles que neles votaram. Cansou-se da dança do deboche. Apercebeu-se que a criatura, fruto de marketing político de seu criador e assessorada por ideólogos que regem seu pensamento por uma única verdade – a do comunismo bolivariano – é fraca e despreparada. Foi o que percebeu uma das líderes do passe livre. Agora que o copo transbordou apresenta à sociedade 5 pactos – um deles político – na tentativa de acalmar os ânimos. As propostas apresentadas são um equívoco, disse Joaquim Barbosa, Presidente do STF. Sim, parece que não entendeu o grito cansado das ruas. O povo não foi às ruas por plebiscito nem por referendo.
Se os dirigentes do país tivessem estudado, cuidadosa e calmamente, o processo de evolução do pensamento político, que permitiu à história gerar as modernas democracias, teriam percebido que elas nasceram a partir de um “pacto” social, a CONSTITUIÇÃO. A Constituição foi o instrumento usado para tornar todos iguais a partir da Lei. Mas, os governantes parecem longe de entender isso. Portam-se como cidadãos de categoria superior. Concedem-se todos os tipos de privilégios, ignorando o princípio constitucional básico da igualdade. Aposentadorias especiais, que são verdadeiros atentados contra quem trabalha e produz; polpuda verba de gabinete, passagens aéreas, carro com motorista particular, auxílio moradia, paletó, gasolina, correio, telefone, e, agora, carregador de mala e estafeta de check-in em aeroporto, tudo às custas dos cidadãos que trabalham e produzem para garantir-lhes a boa vida. Essa é a percepção da sociedade.
O que mais as ruas dizem?
Pacto bolivariano para legitimar espertalhões corruptos que se apossaram da “res publica?” Não! As propostas que vem das ruas são muito simples e didáticas.
1. Redução, de 513 para 250, o número de deputados, que sejam produtivos e trabalhem 44 horas semanais, como todos os demais cidadãos;
2. Redução de 81, para 50 o número de senadores e fim do senador suplente;
3. Fim da reeleição para Presidente;
4. Fim da figura de Vice-Presidente;
5. Fim do privilégio dos cartões corporativos;
6. Eliminação de 80% dos cargos comissionados e assessores;
7. Fim das aposentadorias especiais, com contribuição ao INSS como os demais cidadãos. O Parlamento sueco é excelente local de inspiração. Só com a redução a 250 o número de deputados, sobrariam por ano, mais de 2 bilhões de reais, dinheiro benvindo para educação, saúde, transporte, infraestrutura, etc.
E, mais: Para que servem 39 Ministérios? Para satisfazer partidos e garantir mais um mandato? Eliminem-se 29, que, pelo que produzem, 10 são suficientes. Se não se deram conta ainda, sintam-se avisados.
Esse é o sinal que vem das ruas. O povo está cansado de desvios, de corrupção e de ser enganado. Entendam sua vocação política como serviço à sociedade, do jeito que propalaram quando vieram, em campanha, pedir o voto. Para que 5 pactos? A Constituição já contém os princípios e os valores que devem embasar as reformas. Diz o que deve ser feito. É preciso fazer.
Em nome da liberdade, igualdade e fraternidade, valores da cultura hebraico-cristã base das modernas democracias sejam sinceros, corretos, justos e éticos. Respeitem a Constituição e façam as reformas pontuais que a conjuntura dos novos tempos está a exigir. Sem arranjos casuísticos e segundas intenções. Estudem para compreender quais mecanismos devem ser adotados para tornar a sociedade mais livre, fraterna e justa. O povo quer evoluir. Não lhe neguem o que ele está pedindo de mais sagrado: educação, cultura, saúde, meios dignos de transporte e a possibilidade de crescer em iberdade.
Antônio Frederico Zancaro
Autor de “A Corrupção Político-Administrativa no Brasil”.